Dicas para viajar para a pessoa com ostomia

Quando existe a necessidade de construção cirúrgica de um estoma são inúmeras as adaptações que são exigidas. Na sua unicidade e indivisibilidade, a pessoa com ostomia pode experienciar diminuição da auto-estima e negativismo relativo à sua imagem corporal e o sentimento de vergonha do corpo pode tornar-se o maior impeditivo das relações afetivas e das atividades sociais e de lazer.

Os dispositivos de ostomia são desenvolvidos para não serem notados. A presença de uma ostomia não constitui razão para interromper os programas sociais, os projetos de viagem noutra cidade ou país e os planos para as tão desejadas férias. Poderão surgir vários receios – o que vestir na praia para que as outras pessoas não notem que tem um estoma; o que fazer se surgir uma necessidade eminente de trocar o sistema coletor num sítio turístico de outro país; como deve gerir a situação no aeroporto, e até mesmo a dúvida se pode ir a bordo de um avião devido à pressão da altitude. Existem imensas estratégias que a pessoa pode adotar para que tudo ocorra de forma tranquila e sem ansiedade. Desde que exista o planeamento adequado é possível continuar ou iniciar os projetos de lazer.

Um receio que habitualmente surge na consulta advém da assistência médica noutro país caso necessite. A pessoa pode ponderar realizar um seguro de viagem. Deve ter em consideração que viver com um estoma significa que tem uma “condição médica pré-existente”. É igualmente importante realizar um Cartão Europeu de Seguro de Doença (CESD), que permite receber assistência médica a cuidados de saúde num dos 27 Estados-membros da UE, Islândia, Liechtenstein, Noruega, Suíça e Reino Unido nos mesmos moldes que os beneficiários do sistema de segurança social do país onde se encontram.

Se for para um local onde possa existir barreira linguística, pode escrever previamente frases no idioma do destino que o podem ajudar a manter a tranquilidade, como perguntar onde fica a casa de banho mais próxima ou onde pode adquirir o material necessário. Deve levar sempre consigo as referências de todo o material que utiliza, bem como ter contactos nacionais e internacionais das empresas fornecedoras e se possível saber da existência do material nos locais de destino.

Na preparação da mala de viagem devem ser aprovisionados sistemas coletores e acessórios para os cuidados ao estoma e pele em quantidade suficiente, adequados ao destino de viagem. Consoante o destino e o tipo de estoma que tem, pode haver necessidade de levar determinada medicação, como por exemplo antidiarreicos e sais de reidratação oral, que deve ser sempre aconselhada pelo enfermeiro de estomaterapia e/ou prescrita pelo médico assistente.

No caso de transporte aéreo, ao reservar o voo, pode optar por escolher um lugar próximo ao WC e mais perto do corredor, para que esteja completamente à vontade sempre que necessite de se levantar e ir à casa de banho sem se sentir constrangido. Todos os materiais de ostomia que usa devem ser colocados em bagagem de mão para que possa viajar com a pessoa na cabine. A bagagem despachada para o porão pode ser extraviada, e/ou a viagem de avião pode sofrer atrasos, portanto, ter tudo o que precisa perto é crucial. Como não é permitido levar tesouras na bagagem de mão, se utiliza placas recortáveis, estas devem estar previamente cortadas para facilitar a sua colocação nestes ambientes. Se utilizar dispositivos pré cortados ou moldáveis não será necessário. Também é uma boa ideia viajar com uma bolsa ou mochila mais pequena para além da bagagem de mão com todo o kit necessário para uma troca rápida, caso seja necessário. Não há muito espaço no WC do avião, portanto, levar apenas o que precisa proporcionará muito mais conforto e tranquilidade. Deve ainda certificar-se previamente da quantidade de acessórios líquidos relacionados à ostomia que podem ser transportados a bordo.

A passagem pela zona de segurança pode causar um momento de ansiedade. A zona de segurança pode detetar o material coletor adaptado, mas é importante que a pessoa saiba que não precisa de o mostrar, e a equipa de segurança não deve pedir que tire a roupa num local sem privacidade. Deve ter uma carta do médico assistente que explique que tem uma ostomia. Ponderar ter essa informação traduzida para o idioma do país que irá visitar ou num idioma universal pode também ajudar.

Não há interferência direta na pressão sobre os sacos. No entanto no caso das colostomias e ileostomias existe um pequeno risco de que a pressão provoque uma alteração no funcionamento intestinal e assim potenciar um aumento de gases, fazendo com que o saco infle. Se isso acontecer, tudo o que precisa de fazer é ir ao WC do avião e retirar o ar do saco.

Se optar por viajar de carro, os equipamentos devem ficar sempre na parte mais fresca, evitando a exposição do material a temperaturas elevadas, como por exemplo, no porta-bagagem, pois pode alterar a qualidade da placa.

Se optar por um destino de sol, com vontade de praticar natação em mar ou piscina não deve ficar preocupado com o que deve vestir. O mais importante é usar algo que o faça sentir bem e confiante. Algumas pessoas não se importam em deixar exposto o material coletor quando vão à praia, enquanto outras preferem mante-lo discreto. Hoje em dia existe variedade de roupa de banho. Por exemplo, para além do fato de banho de uma peça, existem fatos de banho com cueca culote de cintura alta que dão discrição à presença do material nestes contextos e que facilitam na necessidade de efetuar o despejo. Optar por roupas de banho estampadas ou com padrão também podem aumentar a discrição. Existem ainda marcas de linhas de roupa íntima, de banho e ginásio adaptadas para pessoas com ostomia, desenvolvidas com intuito de fornecerem mais conforto, segurança, serem esteticamente mais apelativos e reduzirem o impacto visual.

Relativamente à prática de natação os sistemas coletores são impermeáveis. Caso seja utilizado um saco com filtro, deve cobrir o filtro com o adesivo disponibilizado na caixa dos sacos, evitando assim que a água entre no saco. Posteriormente à atividade aquática deve removê-lo. Deve estar preparado para haver a necessidade de substituir o material com maior frequência pelas temperaturas mais elevadas ou pelo contato mais prolongado com a água e por isso deve aprovisionar maior quantidade de material.

Ter ainda em conta que viagens para países tropicais exigem precaução no consumo de água, devendo preferir sempre a ingesta de água engarrafada ou fervida. Se tiver uma ileostomia, ter em atenção o risco maior de perdas hidroeletróliticas e a necessidade constante de repor ingesta de líquidos e sais. Deve levar orientações do enfermeiro de estomaterapia que o segue.

Estas são as dicas essenciais para poder viajar. Por ter uma ostomia, não deve deixar de usufruir de umas férias tranquilas, divertidas e que lhe permitam relaxar. Mantenha as atividades que mais lhe dão prazer.

 

Enf.ª Daniela Dias

Mestre em Cuidados Paliativos

Consulta Externa da Unidade de Urologia da Fundação Champalimaud

Formanda na Pós-graduação em Estomaterapia na CESPU

 

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