A importância da nutrição na pessoa com ostomia

Uma alimentação equilibrada, variada e saudável, que respeite as suas preferências e tolerâncias, é fundamental para promover bem-estar físico, mental e social, sendo importante em todas as fases da vida. Comer é um dos grandes prazeres do homem e isso não deve mudar por viver com uma ostomia. Não deve abrir mão do prazer de comer, mas evite dietas aleatórias sem o conselho do seu enfermeiro de estomaterapia.

A nutrição é essencial para a vida e para a saúde, uma dieta equilibrada fornece todos os nutrientes necessários ao corpo para que este funcione de forma eficaz com o objetivo de prevenir complicações, como a desnutrição (Pearson, 2008).

Em geral, para uma vida saudável, as pessoas com ostomia devem ter uma dieta variada e equilibrada, e cerca de 1,5 a 2 litros de líquidos por dia. No caso da pessoa com ileostomia, pode ser necessário reposição de eletrólitos além da ingestão de água.

No entanto, existem algumas situações que podem resultar em alterações do trânsito intestinal tais como a quimioterapia, que pode provocar diarreia, algo que pode ser controlado ou melhorado com algumas alterações alimentares (Wallace and Tayler, 2011). O aconselhamento especializado com um enfermeiro de estomaterapia e uma nutricionista poderá ser a solução para quaisquer problemas com a alimentação, com conselhos específicos para cada pessoa (Black, 2011).

A nutrição tem também um papel importante na prevenção e correção de deficiências nutricionais que podem causar impacto negativo na reabilitação da pessoa com ostomia, principalmente nas pessoas com ileostomia.

 Podemos sugerir algumas dicas que podem ajudá-lo a evitar situações desconfortáveis desencadeadas por certos alimentos.

Em relação a conselhos genéricos para as pessoas com ostomia, é uma boa prática:

  • Inclua alimentos de todos os grupos alimentares na sua dieta, nas quantidades recomendadas;
  • Coma devagar, mastigue bem os alimentos e evite consumo de líquidos junto às refeições;
  • Coma com regularidade, várias vezes ao dia;
  • Procure alimentar-se em horários semelhantes todos os dias e evite petiscar entre refeições;
  • Sempre que possível, faça as refeições em companhia de familiares ou amigos, comer também é um ato social;
  • Utilize óleo, sal e açúcar com moderação e prefira os alimentos feitos em casa, diminuindo os fritos, e os doces em excesso (troque os temperos prontos industrializados por ervas aromáticas como o manjericão, cebolinha, louro, alecrim e pimenta);
  • Mantenha-se hidratado: o consumo de líquidos é muito importante! Dê preferência para a água, 8-10 copos/dia, e inclua também chás, sumos naturais de frutas e água de coco;
  • Inclua um novo alimento de cada vez e observe seus efeitos;
  • Evite os alimentos processados e ultraprocessados
  • Evite alimentos que possam causar desconforto como gases, odor forte, diarreia e obstipação;
  • No caso de ter uma ileostomia, a pessoa pode sofrer de má absorção de vitaminas e minerais, sendo importante aconselhar-se com o seu enfermeiro de estomaterapia.

 

É possível que todas as pessoas com uma ostomia bebam álcool, mas, como com todas as pessoas, a ingesta deve ser feita com moderação.

Diferentes alimentos, diferentes efeitos

Cada pessoa é única. Por isso, verá que diferentes alimentos podem provocar diferentes efeitos no seu organismo.

A produção de gases e ruídos faz parte do funcionamento normal do sistema intestinal, assim como o odor e a mudança na consistência das fezes. Entretanto, para que possa minimizar estes desconfortos, há alguns alimentos que pode evitar.

  • Alimentos que podem causar maior quantidade de gases: espargos, cerveja e bebidas alcoólicas no geral, brócolos, couve, repolho, bebidas gaseificadas; queijo e laticínios; feijão; alimentos muito condimentados.

Em relação ao odor, os dispositivos de ostomia possuem filtros que o neutralizam, e é normal que não sinta nenhum odor, apenas na troca do dispositivo.

  • Alimentos que podem provocar maior odor às fezes: espargos, ovos, peixe, alho, feijão, lentilhas, grão, alimentos com muita gordura, cebola. De apontar que alguns medicamentos e vitaminas também podem dar mais odor às fezes.
  • Alimentos que podem tornar as fezes mais sólidas: puré de maçã, bananas, pão, farinhas brancas, arroz, batatas, iogurtes.
  • Alimentos que podem amolecer as fezes: sumo de maçã, chocolate, café, leite e laticínios no geral, bebidas alcoólicas, fruta e legumes crus, lacticínios (se intolerante à lactose).

 

No caso das pessoas com colostomia, pode ocorrer, como antes da cirurgia, situações de obstipação. Devem ingerir hidratos de carbono ricos em fibra para prevenir a obstipação (Collett, 2002). Quando não conseguem corrigir com as alterações na alimentação, laxantes podem ser indicados pelo seu profissional de saúde (Lawson, 2003).

  • Alimentos que podem ajudar no caso de obstipação: pão integral, arroz e massa integral, aumentar a quantidade de líquidos ingeridos, frutas e legumes,

 

É interessante ver que grande parte da informação sobre nutrição fornecida às pessoas com ostomia sugere que a maioria das pessoas pode voltar a comer uma dieta normal, com a consciência de que diferentes alimentos têm diferentes efeitos nas fezes (Burch, 2011). Por isso, não perca o prazer de comer uma bela refeição junto dos seus familiares e amigos. Com o tempo verá que o estoma não tem de ser uma barreira, mas sim uma condição de vida.

 

Enf.ª Anunciação Baltazar

 Especialista em Enf.º Médico-Cirúrgica a exercer funções no Serviço de Cirurgia do Hospital Distrital da Figueira da Foz

Enf.ª com Competências Acrescidas Diferenciada em Supervisão Clínica e Avançada em Estomaterapia na Consulta Externa do Hospital Distrital da Figueira da Foz

Docente com funções de Assistente Convidada na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

 

AP-62463-PRT-POREU-v1

Referências Bibliográficas

Black, P. (2011). Coping with common stoma problems in care homes. Nursing & Residential Care; 13(3), 126-8.

Burch J. (2011). Resuming a normal life: holistic care of the person with an ostomy. British journal of community nursing16(8), 366–373. https://doi.org/10.12968/bjcn.2011.16.8.366

Collett K. (2002). Practical aspects of stoma management. Nursing standard (Royal College of Nursing (Great Britain) : 1987)17(8), 45–55. https://doi.org/10.7748/ns2002.11.17.8.45.c3294

Lawson A (2003) Complications of stomas. In Elcoat DC, ed. Stoma Care Nursing Hollister Ltd, Berkshire

Pearson M (2008) Nutrition in Burch, J. (Ed.). (2008). Stoma care. John Wiley & Sons.

Truswell, AS (2003) ABC of Nutrition. 4ª edição. BMJ Books, Londres, ISBN 0 7279 1664 5

Wallace A, Taylor C (2011) Recognizing how chemotherapy side effects can affect stoma care . Cancer Nursing Practice 10 (2): 20-25. Doi: 10.7748/cnp2011.03.10.2.20.c8393

Webb, G. (2002). Nutrition. 2nd ed. Arnold. London.